Sento-me
diante dela. De coração aberto. Vou lavar a alma. Um banho de amor, um banho de
chuveiro cinco estrelas com sabonete inglês da Body Shop. Verdinho, verdinho!
O
ambiente organizado, a mesa de trabalho, um cenário perfeito.
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Os
alfinetes dançando em roda colorida, cabecinhas para o alto à espera de juntar
dois triângulos que se casam e formam um quadrado. Um belo casamento.
A
tesoura, solícita, bem afiada, elegantemente aguarda cortar aquela pilha de
tecidos verdes, vermelhos, roxos... Seu corte será de capacidade máxima.
"Por
favor, já disse, nada de usar somente a minha ponta. Meu tamanho, meu
corte".Que tesoura atrevida! Mas ela tem razão. Não sabemos explorar a sua
capacidade tesoural.
As
réguas, a placa, o cortador rotativo, as linhas, e linhas e linhas... e, na
mesa de trabalho está ela, a rainha, majestosamente colocada – a máquina de
costura. É com ela o grande diálogo. Um diálogo constante.
Muita
reverência. A cadeira recebe-me confortavelmente.
Corpo
ajustado, começa a sinfonia. A voz suave e intermitente fala-me de como apertei
seu pedal. Nervosa, agitada, louca disparada, sua Majestade faz-me parar
imediatamente.
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"Calma!
Vamos buscar o equilíbrio. Nada acontece se você não se aquietar. Quebro-te a
linha. Quebro-te a agulha. Embaraço-te a bobina. Entorto-te a costura. Queres
isto, criatura enlouquecida???"
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Paro,
reflito. Na costura a eternidade. É o meu momento. O agora. O toque do
telefone. A parada para abrir a porta. A corrida para atender a reclamação da
carne que queima na panela. A minha desatenção... e mais e mais pequenas
grandes fugas de foco estarão refletidas eternamente naquelas costuras...
Que
ato de amor! Haja totalidade, haja inteireza.
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